
É um quadrado quase perfeito
em que a luz incide duramente
- uma sombra aguçada e lisa acompanha
o gesto de escrever. Ausência
Mais exacta, mais viva
a sombra da mão e do lápis
forma um conjunto menos suspeito,
de uma harmonia subjacente.
A coincidência da ponta do lápis
com a ponta da sombra do lápis
convida a uma coincidência de todos os pontos
da incoincidência vasta em que escrevo.
Ilusão de uma perfeita justiça,
ilusão dum amor recto como o mármore,
tentação de um espelho claro, inflexível.
Não como um espelho,
mas com a lisura e a tranquilidade do espelho.
Alto ou largo ou baixo, imóvel,
não para passear ao longo duma estrada,
mas fragmento de um turbilhão contido.
in Rosa,António Ramos, «Antologia Poética» OCUPAÇÃO DO ESPAÇO, (1963) - Pág 82
2 comentários:
É muito bonito o poema.
Do António Ramos Rosa, gosto particularmente deste, em "o aprendiz secreto":
"Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio,
mas o pilar mais forte da construção será uma palavra.
Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio,
ao silêncio conduzirá."
E a imagem, de quem é????
A imagem é da Barbara Cole, se clicares em cima da mesma aparece o nome da autora, bem como o titulo da imagem.
Também gosto do Poema.
;)
Gosto também deste, que aqui me deixas.
beijinhos
Enviar um comentário